terça-feira, 22 de março de 2016

O CANTO DOS ESCRAVOS


O CANTO DOS ESCRAVOS 

Foi lançado em 1982 e conta com um time de importantes representantes da cultura afro-brasileira formado por Clementina de Jesus, Dona Doca da Portela e Geraldo Filme. O álbum apresenta 14 das 65 partituras registradas no livro 'O Negro e o Garimpo em Minas Gerais', de Aires da Mata Machado Filho.

A história se dá assim, por volta de 1929, o autor passou férias em São João da Chapada, onde se impressionou com “umas cantigas em língua africana ouvidas outrora nos serviços de mineração”, como descreveu no livro.

Documento fonográfico de preservação da nossa cultura, o disco possui os cantos dos negros benguelas de diferentes regiões mineiras, como Diamantina e a própria São João da Chapada.

Indicação: Prof. Rafael Carneiro







O texto abaixo foi publicado como introdução do livro "O Negro e o garimpo em Minas Gerais (Editora José Olímpio), de Aires da Mata Machado Filho, sendo aqui reproduzido com a permissão do autor, que igualmente autorizou o Estúdio Eldorado a realizar a gravação de quatorze das sessenta e cinco partituras registradas naquela obra.

O CANTO DOS ESCRAVOS - Clementina de Jesus, Doca, Geraldo Filme

Em 1928, indo em gozo de férias a S.João da Chapada, município de Diamantina, chamaram-me a atenção umas cantigas em língua africana ouvidas outrora nos serviços de mineração. Fui ter com um dos conhecedores, o meu bom amigo João Tameirão, que, com solicitude, satisfez à minha curiosidade de aprender as cantigas.

Tomei notas apressadas, que vim depois a rejeitar. E, nas curtas estadas naquele aprazível e tranquilo arraial, nunca deixei de observar alguma coisa sobre os tais cantos de trabalho, cuja importância foi crescendo em meu conceito, à medida que fui adquirindo conhecimentos novos.

Entendi, posteriormente, de realizar, de vez, o velho plano de recolher os "vissungos", como lhes chamam, reunindo ainda o vocabulário e a gramática da "língua de banguela", certamente transformada em nosso meio.

Quase nada consegui na primeira investida. Lá ficava, porém, o meu colaborador, Araújo Sobrinho, com instruções minhas.

Voltando, mais tarde, encontrei novidades: um vocabulário de duzentas palavras, colhidas na boca de "seu" Tameirão, algumas cantigas e a notícia do falecimento do nosso prestimoso amigo.

Fiquei pelos cabelos, imaginando que tudo estava perdido. Mas não tardaram em aparecer outros conhecedores. E, depois de peripécias que não vêm ao caso, conseguimos, com um outro cantador, letra, música e tradução, ou antes "fundamento", como eles dizem.

Não sei se seremos felizes com as notas e reflexões. O certo, porém, é que só o material, que tivemos a sorte de desencavar em nossa mineração, bastaria para justificar o aparecimento de um livro.

À colheita do material seguiu-se o exame da bibliografia sobre o assunto. Compulsando livros de linguistas e etnógrafos, tivemos ensejo de estabelecer confrontos e reforçar hipóteses. Muitas vezes, vimos a autenticidade dos modestos achados e a plausibilidade das reflexões confirmadas pelas contribuições dos eminentes estudiosos que antes de nós lavraram o terreno. Com isso pudemos evitar, quanto possível, generalizações apressadas, cotejos fantasiosos e afirmações apriorísticas. Se o não conseguimos, não foi por falta de necessária diligência.

AIRES DA MATA MACHADO FILHO

LADO A

1 — CANTO I — com Clementina de Jesus, Geraldo Filme e Doca
2 — CANTO II — com Clementina de Jesus
3 — CANTO III — com Geraldo Filme
4 — CANTO IV — com Doca
5 — CANTO V — com Clementina de Jesus
6 — CANTO VI — com Geraldo Filme
7 — CANTO VII — com Doca

LADO B

1 — CANTO VIII — com Clementina de Jesus
2 — CANTO IX — com Geraldo Filme
3 — CANTO X — com Doca
4 — CANTO XI — com Geraldo Filme
5 — CANTO XII — com Clementina de Jesus
6 — CANTO XIII — com Doca
7 — CANTO XIV — com Geraldo Filme

PERCUSSIONISTAS:

Djalma Correia: tronco, atabaques, xequerê, enxada e cabaça
Papete: atabaques, xequerê, agogô e ganzá
Don Bira: atabaques, caxixi, xequerê e afoxê
Projeto e Coordenação Artística: Aluízio Falcão
Direção Musical, Produção e Direção de Estúdio: Marcus Vinícius
Técnico de Gravação e Mixagem: Flávio Barreira
Direção de Arte e Capa: Ariel Severino





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